terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Mágicos, profissionais com o dom de...

Mágicos, profissionais com o dom de iludir

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Há um jogo de encenação entre o mágico e a plateia. Ele incorpora um personagem capaz de realizar mil e uma ilusões. Mais do que desenvolver o ato, é preciso interpretar para envolver antes, durante e depois quem assiste ao número. “Não é só fazer a mágica, tem que representar. O mágico é um ator”, diz Romeu Lins Costa, mágico de 45 anos. A criação da atmosfera ideal nasce a partir de uma série de elementos e combinações. Habilidades com os truques que fazem um pombo surgir das páginas do jornal diante de nossos olhos. As luzes sob os mágicos, trilha sonora para dar ritmo aos números e uma boa dose de atuação para que os espectadores reajam à cena.
Encenar ajuda até mesmo na hora dos deslizes. “Aconteceu [uma vez] de eu ter errado, mas consegui disfarçar”, confessa Rafael Voltan, um design de 29 anos que largou a profissão para se dedicar inteiramente à mágica. Rafael nasceu em Porto Alegre (RS) e com um ano de idade foi adotado por um casal de italianos e se mudou para Turim, na Itália, “a cidade da mágica”, completa. Impregnado pelo cotidiano de magia, aprendeu primeiro com um tio pequenos truques com cartas de baralho.
No começo da adolescência, Rafael viu em um oratório o pai de uma criança em ação e quis saber em que local aprendera a técnica. Foi parar numa escola de mágica e passou três, quatro anos estudando. Até conhecer Mago Sales, um salesiano que detém projetos sociais no mundo inteiro e faz apresentações de mágica para arrecadar verbas para a manutenção dos projetos. Com Mago Sales, Rafael Voltan aumentou o repertório de mágicas, seja nas aulas do Mago ou na leitura das obras da biblioteca de Sales. “Eram dez mil livros de mágica. Eu ficava louco, queria ler todos”, recorda. Em 2006, Voltan retornou ao Brasil. Nos planos, a ideia de ficar apenas três meses para conhecer o país de origem. Mas gostou e resolveu fincar raízes em Belém. Em 2007, fundou o Círculo Mágico Mago Sales, na Escola Salesiana do Trabalho, no bairro da Pedreira. Ali, crianças e adolescentes aprendiam técnicas de mágica, de teatro, malabarismo, postura de palco e outros ensinamentos. “Tudo que pudesse vir a ajudar numa apresentação”, lembra Nathan Felipe Barros Corrêa, estudante de 15 anos e mágico há outros cinco. Em cena, o garoto desempenha todo tipo de peripécia. Faz “brotar” do papel um, dois pombos. Ou “tortura” o público com a possibilidade de cortar na guilhotina os dedos e braços de alguém da plateia. “Ele vai ser o futuro da mágica aqui em Belém”, acredita Rafael. Na Escola Salesiana o projeto durou até 2010. O Círculo, no entanto, continua com encontros e reuniões semanais, nos quais os integrantes compartilham experiências, ensinam mágicas, discutem números e aprimoram a essência de sua arte.
MAGIA NO DIA A DIA
Juntos ou de forma solitária, os membros do Círculo Mágico mostram seu talento em festas de aniversário e quase todo tipo de evento. Romeu é um deles. Motorista particular sempre se encantou pelo mundo da mágica, desde moleque. Há seis anos conseguiu fazer um curso particular com Rafael, depois de ver um folheto na rua sobre o trabalho. “Eu vi nele a oportunidade de realizar meu sonho”. Uma vez por semana tinha aulas com Voltan. A rotina durou três meses. Logo depois entrou para o Círculo. Hoje, divide o tempo entre a família, os filhos e as duas profissões, porque para ele a mágica já não se trata mais de um hobby. “A partir do momento que você é remunerado, você é um profissional”, opina. Para Maycon Yuri Nascimento Costa, de 18 anos, ainda é. “É legal divertir os outros. Eu sempre gostei [de mágica], via pela televisão e falava que queria ser”, recorda o jovem mágico do Círculo de Mago Sales. Nas festas e reuniões da família, o rapaz é requisitadíssimo. “Só lembram de mim”, conta.
Calouro do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará, Maycon quer ser sociólogo ou cientista político. E com um outro emprego sempre por perto. “Pretendo um dia ser um profissional da mágica”, deseja.
Do palco das ruas para o Círculo, veio Dalton Felipe Campos, 22 anos. Seis de ilusionismo. “Aprendi o seu Chico, um senhor que fica na Praça da República. Até hoje ele ensina mágica de rua”, aponta. Com Rafael, incorporou novas técnicas e incrementou o próprio trabalho. Também foi nas bancas improvisadas do seu Chico a iniciação de Arthur Bezerra de Oliveira, 13 anos, estudante, mágico e torcedor do Paysandu. “Mas ele [Rafael] quem me ajudou mesmo”, avalia o garoto, cuja especialidade é o close-up, número mágico feito perto do público, com poucos recursos, sem muitos apetrechos. O preferido de Arthur. “A pessoa confia mais, acredita mais”, compara.
A simplicidade é algo comum aos mágicos do Círculo. Os números são desprovidos de pompa e grandes estruturas. Nem por isso se mostram desinteressantes. Pelo contrário. Manipulam objetos que desaparecem e aparecem do nada e deixam a imaginação em polvorosa para descobrir o segredo do truque, jamais relevado. “A primeira regra da mágica é nunca revelar o segredo”, ensina Rafael. Regra que o mágico Mister M ignorou quando resolveu mostrar na televisão todos os segredos do ilusionismo.
“Querendo ou não ele popularizou a mágica”, opina o mágico e arquivista Paulo Carvalho, 26 anos. So que mais do que mostrar que sabe fazer, o mais importante é emocionar o público”, pondera Voltan. E continuar estudando também. “Quem quer ser um bom mágico precisa se dedicar. Você está sempre aprendendo, o estudo nunca chega ao fim”, avalia Rafael. (Diário do Pará)

fonte:
http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-150284-MAGICOS++PROFISSIONAIS+COM+O+DOM+DE+ILUDIR.html

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