segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É hora de brincar

Um novo filme marca a volta dos Muppets, com a força da Disney e a ajuda da internet.

Caco, o sapo, está de volta – graças à internet. Rebatizado no Brasil de Kermit, seu nome americano, o boneco venceu anos de ostracismo e lidera o retorno dos Muppets aos cinemas, após uma campanha nas redes sociais que despertou a nostalgia dos fãs e conquistou uma nova geração.

 

 

BEM CONSERVADO Kermit, o sapo, grande estrela do filme dos Muppets. O personagem mudou de nome no Brasil, mas mantém o visual (Foto: divulgação)

A volta dos Muppets começou em 2004, quando os direitos de usar os personagens foram comprados pela Disney. A empresa arquitetou um retorno triunfal, posto em prática em 2009, com uma interpretação de “Bohemian rhapsody”, do Queen. O vídeo postado no YouTube foi visto 23 milhões de vezes. A partir daí, os Muppets invadiram o Facebook, o Twitter, o Google+ e os smartphones. Músicas famosas ganharam versões divertidas, jogos em que é possível tocar músicas conhecidas da série foram oferecidos gratuitamente em lojas virtuais, brincadeiras foram criadas para estimular a participação do público e fortalecer o conhecimento sobre os bonecos de pano. Nesta semana, a estreia de Os Muppets consagra o retorno dos personagens à fama.
As ferramentas da internet foram usadas para mostrar às novas gerações que personagens com décadas de tradição podem continuar atuais. Os simpáticos bonecos nasceram em 1954, criados pelo ventríloquo Jim Henson (1936-1990). Foram aprimorados gradualmente, e o termo “Muppets” apareceu em 1956, a partir da junção das palavras “marionete” e “puppet” (“bonecos”, na tradução do inglês). Kermit e seus amigos participaram de programas como Sam and friends e Vila Sésamo, até estrelar o The Muppet show, pelo qual são conhecidos até hoje. Os 120 episódios, transmitidos entre 1976 e 1981, misturam esquetes cômicos com participação de celebridades como Vincent Price, Elton John e Peter Sellers. Quando Muppets – O filme foi lançado, em 1979, os bonecos já eram astros mundiais. O longa-metragem fazia uma brincadeira: Kermit era levado a Hollywood para participar de algumas gravações e se tornava uma estrela. Com orçamento de US$ 28 milhões, rendeu quase dez vezes isso – US$ 274 milhões.
Com o passar do tempo, a fórmula começou a perder força. O filme Muppets do espaço, de 1999, não arrecadou o suficiente nem para pagar os custos de produção. O motivo foi a infantilização dos personagens, em programas como Muppet Babies e The Hoobs. O apelo à família inteira deixou de existir, e os bonecos caíram no esquecimento. As produções seguintes, como a adaptação de O mágico de Oz para um especial de televisão, só reafirmaram a decadência da série – e levantaram dúvidas sobre a possibilidade de ela recuperar a magia que conquistara crianças e adultos nos anos 1960 e 1970.
Para que os Muppets ressurgissem, além de dois anos de uma elaborada campanha de marketing nas redes sociais, a Disney também contou com os esforços de um fã famoso para fazer dos bonecos um sucesso no século XXI. O ator e roteirista Jason Segel, conhecido nos Estados Unidos por seu papel da série de televisão How I met your mother e pelo filme Ressaca de amor, foi escolhido para escrever um roteiro que reabilitasse os personagens. O resultado é um musical divertido, capaz de atrair tanto fãs antigos como um novo público, que acompanhou com curiosidade a volta do fenômeno na internet.
Os Muppets narram a história de Walter (Peter Linz), um jovem fã dos Muppets que cresceu em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Quando seu irmão Gary (Segel) e a namorada, Mary (Amy Adams), vão a Los Angeles comemorar dez anos de namoro, ele aproveita a oportunidade para conhecer os estúdios dos Muppets. Lá, descobre que um magnata do petróleo planeja destruir os estúdios e construir um poço no local. Para salvar o terreno, Walter vai atrás de Kermit e convence o sapo a reunir a turma num último show beneficente. O objetivo é levantar US$ 10 milhões e comprar os estúdios de volta.
EM FAMÍLIA Elenco de Os Muppets nos bastidores do filme. Fã dos personagens, o ator Jason Segel (na cabeceira) assina o roteiro e interpreta o papel principal (Foto: Everett Collection)
 
Assim como o primeiro filme, Os Muppets apostam na autorreferência, a começar pela trama sobre o desafio de voltar à fama. Atores falam o tempo todo sobre o filme e encaixam um episódio de uma série de televisão na história. Em cada cena, celebridades como Dave Grohl, líder do Foo Fighters, e Jim Parsons, ator que interpreta o físico Sheldon Cooper na série Big bang – A teoria, fazem pequenas pontas.
A tentativa de reabilitar séries antigas é justificada pelo sucesso de produções recentes. A nostalgia dos fãs antigos e o apelo que as boas histórias têm para as gerações mais novas garantiram o sucesso de produções como Smurfs (que faturou US$ 141 milhões) e Rei Leão 3D (cuja bilheteria atingiu US$ 93 milhões). O segredo é preservar a tradição. A personalidade dos Smurfs foi mantida, mas os seres azuis foram desenhados em três dimensões. No caso de Rei Leão, a adaptação foi apenas técnica.
Os Muppets seguem esse caminho ao preservar o uso dos fantoches de pano, uma prática que surgiu na Grécia Antiga, cuja capacidade de impressionar manteve-se intacta durante séculos. O ventríloquo Steve Whitmire, responsável por “dar vida” a Kermit desde 1990, esteve no Brasil na semana passada. Durante uma entrevista a ÉPOCA, ele mostrou como manipula o boneco. A técnica, que envolve câmeras e hastes de metal para dar vida ao personagem, impressiona mais do que qualquer pirotecnia tecnológica. “O importante é se manter fiel ao que você é. Os Muppets são uma grande família”, diz. A fórmula impressionou: antes mesmo da estreia do filme, a emissora americana NBC encomendou roteiros para um programa em que os Muppets são vizinhos de uma família humana. Seria a consagração definitiva dos bonecos de pano, que tanto divertiram diferentes gerações ao redor do mundo.
Da vila ao espaço sideral (Foto: Everett Collection)
 

Por que eles mudaram de nome? 
A mudança de Caco para Kermit segue uma estratégia da indústria de entretenimento de unificar a identidade de personagens em todo o mundo. Por que abrir mão de nomes que marcaram a infância pode ser uma ideia lucrativa
Antes do início de Os Muppets nos cinemas brasileiros, os espectadores assistirão a uma cena em que Kermit explica a mudança de nome. Numa visita ao Rio nos anos 1970, quando foi se apresentar a um produtor de cinema, o personagem tossiu. O som foi interpretado como “Caco”, o que gerou uma confusão. A personagem Piggy nega a história. Diz que Kermit usou um nome falso para aprontar no Carnaval e que agora ele deve ser chamado de Kermit, o nome pelo qual sempre foi conhecido nos Estados Unidos.
Curiosamente, essa é a única justificativa dada pela Disney para a mudança de nome: questionados, representantes do setor comercial da empresa dizem que essa é a versão oficial. A mudança também será adotada em outros países. Em Portugal, Kermit deixará de ser o Sapo Cocas, e na Espanha não atenderá mais pelo nome de Gustavo.
Segundo o empresário Jaime Troiano, autor do livro As marcas no divã, a adoção de uma identidade global para os personagens segue uma tendência criada na indústria de alimentos e produtos de limpeza. “Nos anos 1970, quando o mercado era mais fragmentado, as empresas adotavam nomes diferentes para aumentar o apelo regional”, diz. “Hoje, como é muito mais fácil ter acesso a informações sobre produtos de outros países, as marcas se unificaram para fortalecer sua identidade.” A mudança também reduz os custos, pois evita a necessidade de adaptar embalagens de brinquedos e produtos relacionados aos personagens em cada país.
Novas identidades (Foto: Fotos: Everett Collection)
 
 
  fonte:
http://revistaepoca.globo.com/Mente-aberta/noticia/2011/11/e-hora-de-brincar.html

 

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