domingo, 8 de julho de 2012


Muito mais que uma associação de formação profissional, o Circo Grock desempenha papel social dentro e fora da capital potiguar
Por Silvia Correia
Dezesseis anos atrás, um grupo de jovens potiguares apaixonados pela magia circense resolveu encontrar algum curso de formação nas artes do circo. Como Natal não poderia ajudá-los a realizar esse sonho, decidiram viajar para a Europa. Lá, se especializaram pela National Circus Theater e trabalharam durante 11 anos. Apesar de todo esse período fora do Brasil, eles sempre retornavam - nas suas férias de três meses - para as raízes e se apresentavam país afora.
Nil Moura, fundador do Circo Grock (Silvia Correia/Fotec)Nil Moura, fundador do Circo Grock (Silvia Correia/Fotec)
No ano 2000, em uma de suas passagens pela terra natal, os jovens artistas começaram com a ideia da criação de uma escola circense com o teatro Caramelada, que eram oficinas permanentes da arte do circo no Museu Câmara Cascudo. Então, em 2005, eles retornaram da Europa para a capital potiguar e criaram a primeira escola de circo do Rio Grande do Norte. Juntaram os seus cachês para comprar os materiais e equipamentos necessários e começaram as primeiras apresentações do Circo Grock pelo estado para arrecadar mais dinheiro. Era o primeiro passo para a criação da ONG Escola Potiguar de Artes do Circo.
O grupo teve o apoio da Capitania das Artes, que repassou o material para a concretização do circo-escola. Em 2008 e 2009, se inscreveram no edital de Ponto de Cultura do RN. A estreia aconteceu no largo do Machadão, onde permaneceu por um tempo e dali foi se mudando para outros pontos da cidade como: Conjunto Mirassol, Candelária e na Avenida Omar O'grady (prolongamento da Prudente de Morais), no Pitimbu, próximo ao Parque da Cidade.
Atualmente o circo encontra-se em turnê por todo o nordeste e a escola sobrevive de parcerias de permuta, onde se vende trabalho de capacitação em troca das necessidades básicas e de material para manter a instituição de ensino das artes.
O circo é uma magia que é feita para explodir na paisagem, gerar toda uma história, criar uma comunicação e passar uma mensagem. O circo tem isso nasce, morre e renasce a cada novo espetáculo (Silvia Correia/Fotec)O circo é uma magia que é feita para explodir na paisagem, gerar toda uma história, criar uma comunicação e passar uma mensagem. O circo tem isso nasce, morre e renasce a cada novo espetáculo (Silvia Correia/Fotec)
Entrevista – Nil Moura
Senhoras e senhores, bem vindos ao fantástico mundo do circo! No "espetáculo" de hoje, nossa entrevista conta um pouco da história de Jonilson José de Moura, mais conhecido pelo nome de "Palhaço Espaguete". Nil Moura, 43 anos, é o diretor artístico do Circo Grock. Formado em 1990 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) no curso de teatro, fez especialização na arte do circo pela National Circus Theater, faculdade suíça localizada na cidade de Maltre. Juntamente com amigos, adentraram no mundo do picadeiro e fundaram a primeira escola de circo do Rio Grande do Norte - o Circo Grock. E é um pouco dessa a história que iremos conhecer hoje. O Palhaço Espaguete fala agora para a gente um pouco sobre sua paixão pelo universo circense, conta curiosidades da história do Circo Grock e discute sobre as atividades artísticas no Rio Grande do Norte.
Quando começou seu interesse pelo circo?
NM: Meu pai foi funcionário da Câmara dos Vereadores e ganhava muitos ingressos para os espetáculos por causa disso. Então, eu cresci indo muito aos circos. Sempre notei também a minha aptidão para a comicidade. No teatro, para interpretarmos uma personagem precisamos estudá-la, criar todo um laboratório e as primeiras personagens que interpretei foram palhaços de circo. Foi a partir disso que comecei a estudar esse mundo circense e fui me apaixonando. Só que não somente pelo picadeiro, mas por todo o universo: dos números à construção da lona do espetáculo.
Como é viver num circo?
NM: É preciso se ter uma paixão muito grande por esse mundo, pois as instalações são simples. Contudo, viver no circo é maravilhoso, porque você passa a ter uma visão melhor da realidade. Aprendemos que tudo aquilo que nos apegamos não têm muita importância. O que acumulamos é passageiro, mas o que vivemos e fazemos para os outros é o que realmente fica.
O que é o Circo Grock/ Escola Potiguar de Circo (Epac)?
Nil Moura: É um projeto autossustentável, uma ONG, onde nós - artistas especializados nas artes circenses - lecionamos para crianças, adolescentes e universitários com o objetivo de formar profissionais aptos para as artes do circo, aprimorar os circos já existentes e multiplicar o número de profissionais do ramo do circo e resgatar os circos de antigamente sem a pornografia. Só que com tudo isso acabamos por desenvolver um projeto de cunho social.
Por que esse trabalho pode ser considerado de cunho social?
NM: Porque o nosso espaço não só serve para espetáculos circenses, mas também funciona como escola, trabalhando a princípio com crianças e adolescentes com idades entre 10 e 18 anos que estejam matriculados no ensino público da capital. A ideia é ocupar o horário vago do estudante. O fascínio que tentamos passar para os alunos acaba por encantá-los e ajudá-los a sair da marginalidade e/ou a não se desviarem do bom caminho. Buscamos os fazer enxergar o potencial que possuem e com isso, cumprimos um papel social.
Quem foram os fundadores? A equipe atual é composta por quantos membros?
NM: Eu e Gena Leão fundamos o Circo Grock, depois se associaram Eugênio Patchelli e Ana Cecília. O restante da equipe, composta por 14 membros, é de ex-alunos que se tornaram professores.
Qual a origem do nome Grock?
NM: Escolhemos esse nome Grock, porque queríamos colocar o nome de algum palhaço brasileiro reconhecido, mas como todos os palhaços mais reconhecidos já possuíam os seus nomes em circo e optamos por colocar Grock, que é o nome do palhaço rei no mundo inteiro. Grock ficou famoso pelo fato de saber realizar a perfeita fusão da interpretação do palco dentro do picadeiro.
Como você vê as atividades artísticas no Estado? O que falta para os artistas da terra potiguar terem um maior reconhecimento nos outros estados do Brasil e outros países?
NM: Nós temos um déficit muito grande por parte dos gestores, por não entenderem a importância da produção artística na sociedade. Existe ainda uma falta de entrosamento da gestão pública com a gestão artística, com aqueles que fazem a arte acontecer. Existe o recurso, mas falta ainda o entendimento do poder público com a arte e é isso que faz com que a nossa cultura e nossos artistas não se desenvolvam. Contudo, os artistas precisam também saber se organizar. Nós, artistas circenses, começamos a nos organizar no RN somente agora. Estamos em um momento histórico no Estado, pois estamos a criar fóruns, a discutir questões, a criar assembleias e representatividade por todo o país.

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